Relato de uso: 10 gramas psilocybe cubensis efeitos

Eu deveria estar dormindo, mas eu preciso urgentemente relatar tudo o que eu vivi. De início, eu peço a todos vocês que NÃO FAÇAM O QUE EU FIZ (EM HIPÓTESE ALGUMA).

Eu sofro de depressão desde a infância, sempre foi uma situação muito difícil para mim e para a milha família. Sempre preocupando a minha mãe com a possibilidade de suicídio (principalmente agora que moro em outro estado), preocupando meu pai financeiramente em sempre precisar ter dinheiro sobrando para caso eu tenha que ir para o hospital, preocupando minha irmã mais nova e tudo mais.

Estive buscando ajuda de todas as formas possíveis, fiz um tratamento caro com cetamina que foi muito benéfico para mim, mas que não chegou ao nível que eu esperava. Então, comecei a procurar alternativas e foi assim que caí no mundo dos psicodélicos.

Na primeira vez tentei com 3g de psilocybe cubensis e não senti praticamente nada. Depois, fiquei um pouco (duas semanas) em microdosagem e senti que estava ajudando, mas eu precisava de muito mais. Então, parti para 4g e novamente, não senti muita coisa forte, apenas senti um peso enorme no peito e fiquei o tempo todo na bad trip. Esperei o tempo necessário e resolvi, por desespero, tentar com psilocybe cubensis 10g e fazer lemon tek.

Por favor, NUNCA faça isso de uma vez!!! Eu vi todos os conselhos das pessoas dizendo que seria uma dosagem muito forte e que era perigoso, mas no meu ego eu acreditei que aguentaria bem tudo, imaginei que a minha consciência iria cuidar de tudo, mas cheguei a um ponto que ela simplesmente não existia mais.

Enfim, fiz todo o set and setting, fiquei em jejum, fui para o quintal de casa e coloquei um lençol para me deitar na grama, coloquei músicas e o tempo todo estive com a namorada do meu lado me acompanhando.

Não sei dizer quanto tempo demorou para bater, mas provavelmente foram uns 20 minutos. De início tudo estava muito legal, eu olhava para o muro com as trepadeiras e eu sentia tudo muito diferente. Eu colocava a minha mão na frente e de alguma forma parecia que minha mão estava era atrás do muro. Eu conseguia ver TUDO o que estava atrás da minha mão e isso foi muito maluco.

A música ia tocando e as batidas iam repercutindo no meu corpo, a cada batida mais intensa eu sentia meu corpo se contorcendo inteiramente. Estava sendo muito bom, muito legal e muito engraçado. Em algum ponto, o negócio ficou muito intenso, muito mesmo. De repente, para todo lugar que eu olhava eu via a minha mãe.

Eu olhava para o muro e o muro se contorcia e gerava o rosto da minha mãe. Eu olhada para a grama e era minha mãe para todo lado. Eu olhava para a minha namorada e o cabelo dela virava a minha mãe. Isso foi muito bom, eu senti uma conexão com a minha mãe que eu não me lembrava que existia, nos distanciamos muito com o tempo.

De repente, eu não sabia se ficava com os olhos fechados ou abertos. Com os olhos fechados as coisas eram ridiculamente intensas e, quando eu abria, eu me sentia melhor, eu me sentia mais calmo e em um contato gigantesco com a natureza.

Tudo foi ficando mais intenso com o tempo e fui lembrando das outras “mães” que tive, como a minha avó e as mulheres que cuidaram de mim durante a minha infância. E de repente, meu ego foi para o LIXO. Eu não era ninguém perto de todas essas mulheres, eu não era absolutamente nada. Tudo o que eu estudei, tudo o que eu conquistei e tudo o que eu fiz que elas nunca tiveram oportunidade de fazer e mesmo assim ali estava eu, reverenciando-me a elas e pedindo perdão por ter sido tão difícil.

Comecei a conversar com a minha namorada e falei para ela sobre tudo o que estava sentindo, enquanto ela ia me acalmando e me dando água para me hidratar, eu suei como nunca suei antes na vida. Eu joguei todos os meus problemas no chão quando parei para pensar em como todas essas mulheres sofreram para me ajudar e como elas nunca tiveram todas as oportunidades que eu tenho.

De repente eu estava pensando em como eu sou fraco, muito fraco, a ponto de coisas banais como uma conta atrasada no mês me deixarem extremamente preocupado, sendo que são coisas que acontecem com elas diariamente. Eu me curvei a toda a sabedoria delas, a toda a força que elas têm. A todos que estejam lendo isso: valorizem mais e mais as mulheres, muito mais.

Os homens nunca saberão o que é ser uma mulher. Nunca saberemos como é difícil para elas passarem pelas enxaquecas, pelas cólicas, pela gravidez, pelo parto, pelos abusos diários, nunca entenderemos da forma como elas entendem. Peço aqui que ignorem meu dualismo com a questão de gênero e tudo mais, não é meu foco principal neste relato.

Enfim, de repente eu estava rindo muito, eu nunca ri tanto na minha vida e nunca coloquei tanta coisa para fora em tão pouco tempo. A todo tempo eu me via nu, em posição fetal no escuro, rindo desesperadamente pensando na piada que é a vida, em como a gente leva ela de uma forma tão séria sendo que no fim ela é só uma piada e devemos simplesmente rir, apreciar o show que a natureza nos dá.

Eu abria os olhos e minha mão estava ENORME, sem brincadeira, estava do tamanho de um prédio. E ela estava muito parecida com a mão de um bebê, como se eu tivesse voltado aos meus primeiros anos de vida e estivesse descobrindo meus dedos. Eu sentia tudo e senti milhares de sensações que eu me acostumei e que não me lembrava de nada delas devido ao comodismo do dia a dia.

Passava a língua pelos meus dentes e sentia todos os pontos deles, sentia tudo como se fosse extremamente novo. Enquanto eu ria, ria, ria e gritava de rir sem parar. Meu riso estava tão alto que eu pensava que os vizinhos iriam escutar e chamar a polícia, felizmente não chegou a esse ponto.

Eu olhava para a árvore ao meu lado e ela estava tomando o formato do Brasil, idêntico aos mapas. Eu lembrava das pessoas que conhecia e pensava em como as cabeças delas são engraçadas. De repente as cabeças dessas pessoas estavam virando cachorros gordinhos. Foi absurdamente irreal e eu estava chocado, não imaginava que seria tão forte assim, pensava que eu poderia controlar alguma coisa. E o que eu descrevo aqui é 10% (senão menos) do que eu senti, simplesmente não dá para descrever, não importa quantas vezes eu tente.

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Tudo estava indo muito bem, mas de repente começou a vir um desespero incontrolável. Não sei dizer o que é, eu não senti que estava morto, mas senti que iria morrer e que precisava urgentemente acabar com toda a sensação que estava sentindo. Os pensamentos vieram sem parar, sem possibilidade de freio. De início, antes de tomar, eu pensei que minha consciência e meu ceticismo iriam me ajudar a controlar as coisas, mas essas coisas não significaram nada para mim quando tudo pesou.

Eu falei para a namorada que o negócio estava forte e que estava muito ruim, eu precisava urgentemente entrar em casa e ligar o ventilador para tirar o calor que estava sentindo. Vim para dentro tropeçando o tempo todo e dizendo sem parar na minha mente “Isso não é normal. Tem coisa errada. Eu exagerei, passei do limite, vou morrer.”. Mesmo sabendo que os efeitos iriam passar, esse conhecimento não significou absolutamente nada para mim quando os efeitos chegaram.

Eu fui tentando me acalmar, deixando as coisas virem, mas não deu, o desespero foi muito maior. Minha namorada foi me alimentado com tudo que tinha de açúcar no caminho, inclusive os doces que compramos para diminuírem os efeitos caso fosse necessário. Mas não adiantava, já tinham se passado 30 minutos e eu estava completamente desesperado achando que os efeitos não iriam passar nunca.

Eu não estava vendo nada agora, ainda fechava os olhos e via a minha mãe, o problema foi a total falta de controle sobre meus pensamentos, ainda que eu me esforçasse muito. Pensei que ia morrer e falei para a minha namorada ligar para a ambulância. Ela sabia que os efeitos iriam passar e se preocupou mais em me acalmar ao invés de ligar para alguma emergência. Pedi para ligar para a minha mãe e ela ligou.

A mãe foi se desesperando, claro, imaginou que era algum tipo de tentativa de suicídio e começou a chorar. Eu tranquilamente fui dizendo para ela que estava tudo bem, que era para confiar em mim e que tudo o que eu precisava era que ela me acalmasse, me dissesse que estava tudo bem e que as coisas iriam melhorar. Pedi para ela ir me lembrando de momentos da minha infância e assim ela fez, mas durante 1 hora eu fiquei pedindo para ligar para ambulância e me levar para o hospital.

A todo momento eu dizia que precisava de algo para me “apagar”, precisava urgentemente parar com todos os pensamentos e precisava dormir. Eu sentia que precisava que injetassem algo na minha veia que me desmaiasse e que precisava ir para o hospital. Felizmente, minha mãe (sendo enfermeira) sabe muito bem como é o ambiente hospitalar e me disse que seria muito pior. Que eu deveria ir tomando muita água, tinha que comer tudo o que pudesse comer e que era só esperar.

À medida que ela foi me lembrando dos momentos da minha infância eu fui sentindo o desespero ir embora e fui confiando nelas em tudo, deixando elas decidirem o que era melhor e o que eu deveria sentir e pensar. Depois que os efeitos foram reduzindo eu comecei a falar para a minha mãe a respeito de tudo, absolutamente tudo.

Falei para ela coisas que eu pensei que nunca seria capaz de falar, coisas que nem com 10 anos de terapia eu teria a capacidade de tirar do peito e falar. Ela chorou muito, há tempos ela estava buscando por algo assim. Fomos conversando sobre como é a minha vida atualmente e o quanto ela mudou rapidamente, como é difícil para mim me adaptar a todas essas mudanças e como eu sinto o peso de ter que retribuir tudo a meus pais.

E ela foi tirando várias mágoas e desesperos antigos meus, como ter dinheiro o suficiente para cuidar de toda a minha família no futuro. Ninguém está esperando isso de mim, tudo o que eles querem é que eu progrida com os meus objetivos e que conquiste as coisas que almejo conquistar, sem pressa e sem estresse.

Fui melhorando bem lentamente e, sério, eu nunca me senti tão vulnerável (não na conotação que essa palavra obteve com o tempo e sim no sentido bom) e tão receptivo a novas informações. Aprendi muita coisa com a minha mãe durante as 4 horas de conversa que se seguiram, coisas que ela sempre me falou e que eu sempre pisei o pé colocando a minha opinião acima, como se entender mais das “ciências naturais e exatas” de alguma forma me tornasse superior. A inteligência a respeito de como o mundo “funciona” e como as coisas “são” significa absolutamente nada perante ao que ele realmente é.

Não importa o quanto eu tente explicar, não importa o quanto qualquer um de nós tente explicar, nunca seremos capazes de descrever toda a complexidade da vida e de tudo o que existe, nunca. Recebi todas as informações que a minha mãe me trouxe e recebi com carinho, concordando com tudo o que ela falava e aceitando isso para a minha vida. Também falei muito com a namorada e pedi desculpa por todo o peso que tenho colocado em cima dela, precisando carregar minhas preocupações junto às preocupações dela.

Conversamos muito, não consigo me lembrar de tudo, mas falei o que nunca pensei que seria capaz de falar. Essa clareza final fez a experiência valer a pena, mas eu tenho certeza de que se estivesse sozinho ou se não tivesse a minha mãe para ir me acalmando e minha namorada cuidando de mim teria dado alguma coisa errada.

O ponto é que a sua razão vai para o lixo, não importa o quão racional você acredite que seja. Se eu estivesse em um prédio eu teria pulado da janela tentando acabar com os efeitos, mesmo que eu entenda que isso causaria a minha morte. É ridiculamente importante ter pessoas que te amam e que você ama para te acompanharem durante o processo, é na verdade a etapa mais importante de todas.

E agora penso em como é ridículo mesmo com um texto tão grande ainda não conseguir expressar nada do que eu senti e do que pensei, não cheguei nem perto. Aprendi a valorizar mais a minha vida, respeitar as vidas dos outros e colocar as minhas coisas no lugar, aprender a fazer o que eu gosto de fazer e aproveitar essas coisas. Então, ter essa nova noção é algo completamente novo para mim. Porém, sinto que eu poderia ter chegado a essa clareza sem precisar aumentar tanto a dose, eu não deveria MESMO ter tentado 10g de uma vez.

Eu espero que esse relato possa ajudar pessoas confusas como eu, que estão passando pela depressão ou estresse e que não sabem mais o que fazer. Tudo o que eu digo é para não acharem que podem fazer tudo sozinhas porque não é assim que a vida funciona. Nós somos animais sociáveis e nós precisamos de nossa rede de apoio sempre. Entendo que nem todos têm essa mesma rede que eu, mas todos têm alguma rede, seja ela firme ou fraca.

Se está pensando em passar pelo que eu passei, eu te desencorajo veementemente. É preciso que tudo esteja certo e em dia para que valha a pena a clareza final. Se eu estivesse sozinho teria sido completamente diferente, talvez teria ido para o hospital e estaria internado, sendo humilhado por todos. Por favor, jamais pense em exagerar e acreditar mais nas mentiras da sua mente do que na capacidade do seu corpo.

Eu não quero nunca mais chegar a esse ponto, nunca mais mesmo! Ainda pretendo usar os psicodélicos para resolver os problemas do cotidiano, mas não quero nunca mais sentir o desespero que eu senti, a sensação de estar extremamente próximo da morte e o medo de ficar em um loop eternamente. Por favor, cuide de si e deixe o tempo agir, faça tudo aos poucos e busque ajuda de todos que puderem te ajudar.

Obrigado se você se interessou em ler tudo e espero que a minha experiência te dê algum tipo de motivação ou clareza. Eu peguei tudo de uma vez porque sentia a urgência de melhorar logo, mas essa urgência pode piorar muito a viagem se uma coisinha mínima der errado. Cuide-se e vá aos poucos, a cura nunca vem do dia para a noite, NÃO É ASSIM QUE AS COISAS FUNCIONAM.

Obrigado novamente, abraços!

TL;DR: sinto muito, não consegui expressar a trip com esse texto enorme, então é impossível eu expressar em um resumo. Tudo o que eu posso dizer é que bateu muito mais forte do que eu pensava e que no fim deu tudo certo porque eu tinha uma rede de apoio firme. Sinto minha vida mudada, mas não a ponto de nunca mais sentir a depressão, mas no sentido de finalmente eu ter encontrado algo capaz de me fazer ver com mais clareza tudo o que eu tenho de positivo no cotidiano. Mas não recomendo de forma alguma que façam o que fiz, NUNCA!

Nota: Este foi o relato do João Coelho que nos deu a liberação para que o seu texto fosse publicado aqui no Fantaxticamente, a intenção de levarmos a diante o seu relato é unica e exclusivamente para concientizar as pessoas sobre o uso de doses elevadas de cogumelos mágicos.

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